terça-feira, 29 de junho de 2010

Síndrome do passe extra

Os jogos espanhóis (o time que Del Bosque coloca em campo hoje contra Portugal é o mesmo que decidiu a classificação contra o Chile, na última rodada da fase de grupos):

Espanha 0-1 Suíça
O time espanhol na surpreendente derrota na estréia:
ESP: 1/3/5/6/7/8/11/14/15/16/21.
[1] Casillas (uma curiosidade: a cara de pau da imprensa espanhola que tentou atribuir a responsabilidade da derrota à namorada de Casillas)
[3] Piqué / [5] Puyol no miolo da zaga. [5] é um dos jogadores que eu mais implico na vida: pra mim ele é ruim e estabanado, ainda que entenda bem o funcinamento do time e seja, de fato, um líder.
Os laterais, [15] Sergio Ramos e [11] Capdevila, alinham com os volantes [16] Sergio Busquets e [14] Xabi Alonso.
Um dos melhores passadores que vi jogar, [8] Xavi, é o organizador. [21] David Silva e [6] Iniesta estavam encarregados de fazer a condução e ligar meio e ataque.
[7] David Villa era o homem gol, mas não funcionou neste jogo.
O time suíço conseguiu exercer a marcação, interromper o ritmo proposto pelos espanhóis e fazer o seu gol com Gelson Fernandes, aos 7 minutos do 2º Tempo. Apesar do domínio espanhol, o goleiro Benaglio não foi figura da partida. Não concordo com a avaliação de muitos que li e ouvi, de que foi um resultado injusto. Se estivesse no lugar de Hitzfeld e enfrentasse, com uma seleção modesta, aquela que é considerada a seleção que melhor troca passes no mundo eu também optaria por uma marcação mais forte e tentar a sorte num contra-ataque. Não é um futebol bonito, mas foi eficiente neste jogo (depois a Suíça sucumbiu graças a sua incompetência em atacar e fazer gols).

Um pouco além dos 15’ de jogo Del Bosque colocou [9] Torres em campo, em lugar de um volante, Busquets. Isso obrigou [8] Xavi a jogar mais recuado, junto a [14] Xabi Alonso. Não era uma solução ruim, Xavi está acostumado a jogar assim também. No minuto seguinte foi a vez de [22] Jesús Navas substituir David Silva. Navas entrou muito bem, atuando como ala, enquanto Sérgio Ramos foi recuado para liberar um pouco mais a Xavi, novamente.
Aos 32 minutos o treinador espanhol abriu ainda mais sua equipe, colocando o centroavante [18] Pedro e retirando Iniesta. Mais uma vez a modificação interferiu no posicionamento de Xavi, que voltou a recuar. Apesar da presença de vários atacantes, o melhor lance espanhol foi uma bola no travessão, em chute de Xabi Alonso aos 25 minutos do 2º Tempo.

O jogo seguinte foi o da “recuperação”, um 2-0 contra Honduras que só não teve um ‘triplete’ de David Villa porque ele desperdiçou uma penalidade.
ESP: 1/3/5/7/8/9/11/14/15/16/22.
Saídas de Iniesta e David Silva para as entradas de ‘Niño’ Torres e Jesús Navas. Com essa entrada, Del Bosque colocou Torres no comando do ataque e abriu Navas pela direita e Villa pela esquerda. Torres que está mais preocuado em acertar as tabelas para Villa: segundo este artigo do Guardian [colocar link: http://www.guardian.co.uk/football/blog/2010/jun/28/world-cup-2010-fernando-torres-spain], ele está conformado fazendo o ‘Émile Heskey’ no time espanhol (um sacrilégio, eu sei... mas não deixa de ser interessante pensar este papel de coadjuvante aceito por Torres). Xavi, neste jogo, foi o homem mais adiantado do meio. Sérgio Busquets estava mais fixo na frente da zaga.
Xavi foi substituído por [10] Fabregas nos últimos 25 minutos. [13] Mata entrou em lugar de Torres, aos 25 do 2º tempo, devolvendo Villa ao comando de ataque. Aos 32 minutos foi a vez de [17] Arbeloa entrar para poupar Sérgio Ramos, na mesma função. Se este artigo fosse sobre basquete eu falaria em síndrome do passe extra... que diabos, o texto precisa disso: a Espanha sofreu neste jogo da síndrome do passe extra. A busca, o tempo inteiro, pelo passe para o jogador melhor colocado deixa de ser uma virtude quando falta o chamado ‘instinto matador’. Ou quando o jogador mehor colocado continua procurando alguém ainda melhor colocado. Sim, a Espanha fez 2-0 e o terceiro só não saiu porque Villa bateu muito mal o pênalti, mas foi pouco pela fraqueza do adversário e pelo volume de jogo espanhol. Inevitável que o jogador mais ambicioso tenha brilhado. Afinal a assistência, um termo tomado também de empréstimo ao basquete, só é contada quando sai o gol... Passes bonitos para quase gols são apenas passes bonitos.

Chile 1-2 Espanha:
ESP: 1/3/5/6/7/8/9/11/14/15/16.
Retorno de Iniesta para a saída de Navas. Este é o time que Del Bosque colocará em campo contra Portugal. Apesar das poucas modificações é importante notar que Villa não alinhou com Iniesta (desta vez pela direita) e Xavi, mas com Torres no comando de ataque. Villa começou mais a esquerda, perto da grande área, confrontando Medel. E ‘Niño’ Torres ligeiramente para a direita, mas próximo ao semicírculo. Por vezes, Villa abria até a linha lateral, mas dessa vez recuando menos do que no 2º jogo, sempre buscando explorar o acúmulo de funções defensivas de Ponce e Medel no esquema chileno.
Outra modificação interessante no desenho foi a postura bastante adiantada de Sérgio Ramos. Os gols surgiram em falhas chilenas (mas havia claro domínio territorial e das ações por parte dos espanhóis): o golaço de Villa que abriu o placar não aconteceria se o goleiro Bravo não fosse o ‘líbero’ cortando um passe para Torres na sua lateral direita, aos 24 minutos. Aos 37 a Espanha foi premiada duplamente: Jara não conseguiu dominar uma bola simples passada por Medel em saída de bola. Iniesta roubou a bola e houve trabalho bem feito na troca de passes por ele, Torres e Villa, terminando no gol de Iniesta. Duplamente premiada porque o árbitro mexicano Marco Rodríguez, expulsou o volante Estrada em lance que Torres tropeçou em si mesmo. Apenas a título de curiosidade os espanhóis são os únicos que ainda não levaram cartão nenhum na Copa.
Mas, mesmo com domínio espanhol, o que se viu depois foi a valentia (e a ousadia do esquema tático) do Chile. Sofrer um gol chileno e não fazer nenhum, vimos ontem no jogo das oitavas entre Brasil e o time dirigido por Bielsa, é uma proeza deste time espanhol do qual, se esperava mais. Fábregas e Javier Martínez ainda entraram no jogo, mas o panorama foi de uma certa acomodação.
A Espanha tem muito talento e tem centroavantes que mostraram em suas carreiras que são goleadores. Falta mostrar esta intenção na Copa.

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