sexta-feira, 11 de junho de 2010

Surpresa: estou com Pé de Uva


Acho Carlos Alberto Parreira – a quem chamo, não exatamente com carinho, de Pé de Uva – um técnico ultrapassado. Há anos ele vende um produto que não entrega: o técnico muito conhecedor de táticas, capaz de implementar um sistema de jogo organizado em qualquer equipe (o que é reforçado pelo vínculo que ele criou, habilmente, com palestras e eventos relacionados ao tema). Ainda que os resultados de seus trabalhos recentes não animem, ele sempre consegue compradores.
Mas burro ele não é. E tomou uma decisão acertada ao não incluir o ídolo sul-africano Matthew Booth no time titular para a estréia. Ainda que Booth seja, inegavelmente, um líder da equipe.
Pé de Uva sabe que o jogo que pode impedir o “vexame” – considero isso um exagero, dadas as óbvias limitações do elenco – de ser o primeiro anfitrião a cair ainda na fase inicial do torneio, é o de abertura, mesmo que tenha dito que os mexicanos são o conjunto mais forte do grupo.  Vencendo o México os Bafana Bafana poderiam sonhar com um empate ou mesmo uma vitória em um dos jogos restantes (e ‘El Tri’ teria a capacidade de retirar pontos de Uruguai e França).
Agora imagine que você tem um grande sujeito em seu time de peladas. Em altura inclusive (o substituto de Booth, Khumalo, deixa a seleção dez centímetros mais baixa). Do outro lado, entretanto, o time adversario é de ‘baixinhos’, nada de outro mundo, mas velozes. Tudo indica que seria inútil se eles tentassem vencer com jogadas altas. E aí o grande amigo apresenta o seu defeito: ele já não é nenhuma criança e seu forte nunca foi a recuperação após um drible. Se fosse meu amigo iria pro gol ou pro banco. Na hora.
Meus amigos podem dizer que o cara grande que já não consegue se recuperar após levar um drible sou eu, mas isso não vem ao caso.
Pelo México há jogadores capazes de aprontar em jogadas aéreas, como Guille Franco ou Rafa Márquez, ambos com 1,82m. A saída de Booth também permite que um mexicano, ‘Maza’ Rodríguez, com seu 1,91m, passe a jogador mais alto da partida. Mas ele pode ser marcado por Khumalo, apenas 3cm mais baixo.
Ao escolher Khumalo como titular, Parreira decidiu que os dez anos que separam os zagueiros serão mais importantes neste jogo do que os dez centímetros de altura. E que seu líder de 33 anos sairia humilhado de uma partida na qual tudo leva a crer que ele seria o ponto fraco atacado por jogadores capazes, rápidos e bem mais novos como Carlos Vela ou “Chacharito” Hernández.
Manteve também suas escolhas recentes (encontrar uma partida na qual Booth tenha sido o titular é bastante difícil).
(...)
Duplas de zaga (e participações de Booth e Khumalo) nos amistosos de preparação, dos jogos mais recentes para os mais antigos:
5/jun: 1-0 Dinamarca (Pretoria):
Khumalo jogou o lado de Mokoena. Booth estava no banco e de lá não saiu.
 O gol de Mphela surge após bom passe de Tshabalala nas costas do adversário (o 23 Patrick Mtiliga). O atacante aproveita a diagonal, e chuta cruzado, por baixo de Andersen. Foi o sexto gol de Mphela nos últimos 5 amistosos (3 deles de pênalti). ver em: http://www.youtube.com/watch?v=i6eXcExCL5k&feature=player_embedded
31/maio: 5-0 Guatemala (Peter Mokaba Stadium) (Mphela fez dois gols, mas ambos em pênaltis inexistentes, como pode ser visto em http://www.youtube.com/watch?v=BvpYogEGnF8&feature=player_embedded)
Booth substitui Khumalo aos 21 do 2º T, quando a partida já estava 4-0. Mokoena jogou os 90 minutos.
Obs.: último jogo antes dos cortes. Benny McCarthy ficou sentado no banco e não foi utilizado. Bryce Moon, o lateral direito que vi jogando de volante pela direita pelo Panathinaikos numa Champions League (embora Placar, p. ex., no esquema tático desenhado, tenha o colocado na zaga do time de Parreira), jogou todo o 2º tempo e, no entanto, não impressionou ao treinador brasileiro.

27/maio: 2-1 Colômbia (Joannesburgo) (2 gols de pênalti, quer dizer, o árbitro deu pênalti, né? Modise e Mphela fizeram. Modise, aliás, erra a 1a cobrança)
Mokoena e Khumalo pelos 90 minutos, apesar das 5 substituições da equipe no amistoso. Booth estava no banco.
Video (veja como não há motivos para as penalidades): http://www.youtube.com/watch?v=vfec1V_ijwQ&feature=related

24/maio: 1-1 Bulgária (Joannesburgo) (o gol de Sangweni acontece depois de um escanteio que passa por toda a área e o defensor está do lado esquerdo para cabeceá-la para abrir o placar, http://www.youtube.com/watch?v=LdOaR7Cg1qM&feature=related).
Gaxa ou Sangweni (ambos em campo e mais acostumados à função de lateral direito), um dos dois formou a dupla de área com Khumalo. Mokoena, que joga mais freqüentemente como volante no futebol inglês, entrou apenas no 2ºT (substituindo Letsholonyane). Como Sangweni também saiu, podemos deduzir que era ele que acompanhava Khumalo.
Booth não entrou em campo.

16-maio: 4-0 Tailândia
Aqui a zaga também deve ter sido composta por Khumalo e Sangweni (com alguma possibilidade de que Gaxa tenha completado o miolo de zaga). Booth entra em lugar de Sangweni aos 31’/2ºT, quando o placar já apontava 3-0.

Tshabalala fez (cobrando falta) o 1º, Mphela fez dois e Parker completou a goleada, já no fim da partida.
 E estes foram os jogos da África do Sul desde que a seleção se reuniu, de vez, para a Copa. Vale reforçar que Booth não participou de nenhuma partida, também, da fase de eliminatórias (da qual a África do Sul participou porque qualificava para a Copa Africana de Nações).
(...)
Dito isso tudo, devo lembrar aos maníacos por apostas que as chances do México vencer com um gol de cabeça aumentaram (nada muito significativo, hehe), no momento em que dei razão a Parreira. A chance de um ‘Leojinx’ é potencializada com o apoio ao Pé de Uva. Sabe como é, né? A razão nem sempre ajuda no futebol... e minha bola de cristal veio embaçada de fábrica. Nela o resultado é 2-1 para os Bafana Bafana, com direito a alguma decisão controversa do árbitro Ravshan Irmatov, do Uzbequistão. E no outro jogo o Uruguai vence, por 1-0, num golaço de Forlán. Coisas da bola de cristal mais defeituosa que conheço.
(...)
Analisando os últimos jogos da seleção comandada por Carlos Alberto Parreira fica difícil entender a surpresa a respeito da ausência de Booth no time titular, não acham? E vocês escolheriam qual zagueiro?

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