Acho  Carlos Alberto Parreira – a quem chamo, não exatamente com carinho, de  Pé de Uva – um técnico ultrapassado. Há anos ele vende um produto que  não entrega: o técnico muito conhecedor de táticas, capaz de implementar  um sistema de jogo organizado em qualquer equipe (o que é reforçado  pelo vínculo que ele criou, habilmente, com palestras e eventos  relacionados ao tema). Ainda que os resultados de seus trabalhos  recentes não animem, ele sempre consegue compradores.
Mas  burro ele não é. E tomou uma decisão acertada ao não incluir o ídolo  sul-africano Matthew Booth no time titular para a estréia. Ainda que  Booth seja, inegavelmente, um líder da equipe.
Pé  de Uva sabe que o jogo que pode impedir o “vexame” – considero isso um  exagero, dadas as óbvias limitações do elenco – de ser o primeiro  anfitrião a cair ainda na fase inicial do torneio, é o de abertura,  mesmo que tenha dito que os mexicanos são o conjunto mais forte do  grupo.  Vencendo o México os Bafana Bafana poderiam sonhar com um  empate ou mesmo uma vitória em um dos jogos restantes (e ‘El Tri’ teria  a capacidade de retirar pontos de Uruguai e França).
Agora  imagine que você tem um grande sujeito em seu time de peladas. Em  altura inclusive (o substituto de Booth, Khumalo, deixa a seleção dez  centímetros mais baixa). Do outro lado, entretanto, o time adversario é  de ‘baixinhos’, nada de outro mundo, mas velozes. Tudo indica que seria  inútil se eles tentassem vencer com jogadas altas. E aí o grande amigo  apresenta o seu defeito: ele já não é nenhuma criança e seu forte nunca  foi a recuperação após um drible. Se fosse meu amigo iria pro gol ou pro  banco. Na hora. 
Meus amigos podem dizer que o cara  grande que já não consegue se recuperar após levar um drible sou eu, mas  isso não vem ao caso.
Pelo México há  jogadores capazes de aprontar em jogadas aéreas, como Guille Franco ou  Rafa Márquez, ambos com 1,82m. A saída de Booth também permite que um  mexicano, ‘Maza’ Rodríguez, com seu 1,91m, passe a jogador mais alto da  partida. Mas ele pode ser marcado por Khumalo, apenas 3cm mais baixo.
Ao  escolher Khumalo como titular, Parreira decidiu que os dez anos que  separam os zagueiros serão mais importantes neste jogo do que os dez  centímetros de altura. E que seu líder de 33 anos sairia humilhado de  uma partida na qual tudo leva a crer que ele seria o ponto fraco atacado  por jogadores capazes, rápidos e bem mais novos como Carlos Vela ou  “Chacharito” Hernández.
Manteve também suas  escolhas recentes (encontrar uma partida na qual Booth tenha sido o  titular é bastante difícil).
(...)
Duplas  de zaga (e participações de Booth e Khumalo) nos amistosos de  preparação, dos jogos mais recentes para os mais antigos:
5/jun:  1-0 Dinamarca (Pretoria): 
Khumalo jogou o  lado de Mokoena. Booth estava no banco e de lá não saiu. 
31/maio: 5-0 Guatemala (Peter Mokaba  Stadium) (Mphela fez dois gols, mas ambos em pênaltis inexistentes, como  pode ser visto em http://www.youtube.com/watch?v=BvpYogEGnF8&feature=player_embedded)
Booth  substitui Khumalo aos 21 do 2º T, quando a partida já estava 4-0.  Mokoena jogou os 90 minutos.
Obs.: último jogo  antes dos cortes. Benny McCarthy ficou sentado no banco e não foi  utilizado. Bryce Moon, o lateral direito que vi jogando de volante pela  direita pelo Panathinaikos numa Champions League (embora Placar, p. ex.,  no esquema tático desenhado, tenha o colocado na zaga do time de  Parreira), jogou todo o 2º tempo e, no entanto, não impressionou ao  treinador brasileiro.
27/maio: 2-1  Colômbia (Joannesburgo) (2 gols de pênalti, quer dizer, o árbitro deu  pênalti, né? Modise e Mphela fizeram. Modise, aliás, erra a 1a cobrança)
Mokoena  e Khumalo pelos 90 minutos, apesar das 5 substituições da equipe no  amistoso. Booth estava no banco.
Video (veja como não há motivos para as penalidades): http://www.youtube.com/watch?v=vfec1V_ijwQ&feature=related
Video (veja como não há motivos para as penalidades): http://www.youtube.com/watch?v=vfec1V_ijwQ&feature=related
24/maio:  1-1 Bulgária (Joannesburgo) (o gol de Sangweni acontece depois de um  escanteio que passa por toda a área e o defensor está do lado esquerdo  para cabeceá-la para abrir o placar,  http://www.youtube.com/watch?v=LdOaR7Cg1qM&feature=related).
Gaxa  ou Sangweni (ambos em campo e mais acostumados à função de lateral  direito), um dos dois formou a dupla de área com Khumalo. Mokoena, que  joga mais freqüentemente como volante no futebol inglês, entrou apenas  no 2ºT (substituindo Letsholonyane). Como Sangweni também saiu, podemos  deduzir que era ele que acompanhava Khumalo.
Booth  não entrou em campo.
16-maio: 4-0  Tailândia 
Aqui a zaga também deve ter sido composta por  Khumalo e Sangweni (com alguma possibilidade de que Gaxa tenha  completado o miolo de zaga). Booth entra em lugar de Sangweni aos  31’/2ºT, quando o placar já apontava 3-0.
Tshabalala  fez (cobrando falta) o 1º, Mphela fez dois e Parker completou a  goleada, já no fim da partida.
(...)
Dito  isso tudo, devo lembrar aos maníacos por apostas que as chances do  México vencer com um gol de cabeça aumentaram (nada muito significativo,  hehe), no momento em que dei razão a Parreira. A chance de um ‘Leojinx’  é potencializada com o apoio ao Pé de Uva. Sabe como é, né? A razão nem  sempre ajuda no futebol... e minha bola de cristal veio embaçada de  fábrica. Nela o resultado é 2-1 para os Bafana Bafana, com direito a  alguma decisão controversa do árbitro Ravshan Irmatov, do Uzbequistão. E  no outro jogo o Uruguai vence, por 1-0, num golaço de Forlán. Coisas da  bola de cristal mais defeituosa que conheço.
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Analisando  os últimos jogos da seleção comandada por Carlos Alberto Parreira fica   difícil entender a surpresa a respeito da ausência de Booth no time  titular, não  acham? E vocês escolheriam qual zagueiro?
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